Walter Benjamin




Em nova caminhada pela Rua de mão única, tantas vezes percorrida outrora, parei em frente ao nº 268 no exato momento em que Walter Benjamin colava na vitrine de uma livraria às moscas este texto.


“O bom escritor não diz mais do que pensa. E isso é muito importante. É sabido que o dizer não é apenas a expressão do pensamento, mas também a sua realização. Do mesmo modo, o caminhar não é apenas a expressão do desejo de alcançar uma meta, mas também sua realização. Mas a natureza da realização – faça justiça à meta ou se perca, luxuriante e imprecisa, no desejo – depende do treinamento de quem está a caminho. Quanto mais mantiver a disciplina e evitar os movimentos supérfluos, desgastantes e oscilantes, tanto mais cada postura do corpo satisfará a si própria e tanto mais apropriada será sua atuação. Ao mau escritor ocorrem muitas coisas, e nisso se gasta tanto quanto o mau corredor não treinado nos movimentos indolentes e gesticulados dos músculos. Mas exatamente por isso nunca pode dizer sobriamente o que pensa. É dom do bom escritor, com seu estilo,, conceder ao pensamento o espetáculo oferecido por um corpo gracioso e bem treinado. Nunca diz mais do que pensou. Por isso, o seu escrito não reverte em favor dele mesmo, mas daquilo que quer dizer.”




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